Arquivo do blog

domingo, 14 de junho de 2015

Cusco parte II - Nazca - Huacho

Queridos e queridas! Pois bem, eis que lhes trago a Saga de Valentine parte II. (por Silvio)


Lá se ia Ivan, arrumando tudo, elétrica, mecânica, eletrônica, cola, faz fibra, solda, desmonta, monta.. e Valentine pode ir pro campo de provas.
Juan, meu fiel cicerone, me diz que temos que ir ao Vale Sagrado, por conta das energias lá emanadas, pelo museu da cultura antiga Peruana e para testar Valentine, antes de me afastar dele e da oficina de Juan. Acertadíssimo!
Pegamos Valentine pelas 08:30h, Ivan ficou desentortanto os Baús e terminando o acabamento dos plásticos, nós seguiremos testando Valentine.

Ivan me dá as instruções da nova ignição, que faz uma ponte ou "by pass", enganando o computador da moto e fazendo-a funcionar normalmente. Giro a chave, ligo o botão verde, o azul, desbloqueio o botão vermelho de emergência e: "Voilá", eis que rugem os instintos de Valentine como eu ouvia outrora.  

Monto em Valentine com ar observador, tentando encontrar as diferenças e similaridades entre o pré e pós acidente. Saímos devagar, em uma estrada sinuosa e Valentine vai se comportando bem. O motor soa como novo, a parte elétrica/eletrônica funciona bem e nada parece fora do lugar. 


Saindo para a primeira volta


Passando por um buraco ouço um "clanc", registro e sigo, o guidão está levemente desalinhado à direita e o espelho esquerdo mais baixo. Anoto tudo. Era sexta-feira e logo após ao meio dia estaríamos na oficina de Ivan e poderíamos ajeitar esses detalhes que surgiram no teste. 
Seguimos o percurso e nada mais se apresenta, indicando que Valentine estava pronta para a estrada. A alegria me dominou, cantava e gritava no capacete, me lembrando humildemente do Ayrton Senna comemorando com sua equipe, pelo microfone do capacete, a primeira vitória do GP Brasil em 1991: "I dont believe! I dont believe!".

Clique para relembrar o momento de Ayrton Senna

A caminho do Vale Sagrado!


Os Incas trabalhavam a montanha em níveis para seus plantios.

Com Juan, provando a Empanada de 07 farinhas!

Porquinho da India - Iguaria!

Familia viajando junto!

Museu da cultura Peruana à caminho do Vale Sagrado!


Combinei com Juan que almoçariamos juntos em um restaurante legal em Cusco, como um gesto simbólico de agradecimento para com ele e com sua família, já que Yulia está grávida de 08 meses e ele estava a semana toda às voltas comigo. 
Deixamos a moto no centro de Cusco, e fomos ao Marriôt almoçar. Diga-se de passagem, que lugar bacana. Construído sobre edificações antigas, apresenta um boulevard muito agradável e uma boa comida. Por lá nos detivemos durante uma hora e meia com muitas risadas e comemorações. 

Parrilla! Saborosa!

Comemorando e agradecendo!

Cusco em suas festas de junho!

Momento cultural, mas não sem protestos! Os problemas se repetem!

Campesinas em Cusco!


Era hora de pegar as motos, instalar os baús e montar tudo para a partida no dia seguinte.
Minha moto ficou afastada da Estrella de Juan, pois não havia espaço para as duas juntas.
Juan tira Estella da vaga do estacionamento e me espera à margem da rua, para seguirmos para a  oficina. 
Me acomodo sobre Valentine e não acredito no que vejo! Toda a frente retorcida, como se tivesse caído. Me afasto dela, e confiro os locais recém pintados e nenhum arranhão é detectado.
Saio com Valentine rumo a oficina, triste e tentando entender o que havia acontecido. 
Depois com mais calma, constatamos que os amigos do alheio tentaram levar o GPS instalado na estrutura da bolha. Como estava trancado à chave, o retorceram de todas as formas, mas não tiveram êxito. Isso resultou em uma bolha e painéis muito tortos. 
Ao tentar desentortá-los, com o uso de uma alavanca, eis que surge um novo trinco na base de sustentação da "face"de Valentine. Resultado: 08 horas de reparo e só as 22:00h pudemos dizer que tudo estava pronto. Obviamente que alguns detalhes tivemos que deixar aquém do ótimo, pois eu não estava disposto a esperar mais um dia. Não poderia ter sido mais fácil? Que coisa!
Eu que já havia relaxado e comemorado, de novo me vi tenso e apreensivo, mas jamais desesperançoso. Pela primeira vez, vi Juan preocupado, mas também, não desanimado. E comigo esteve até o final dos reparos. Não bastasse isso, ainda foi em casa e me trouxe uma bandeira do Brasil para me acompanhar na viagem, já que eu não tinha. Claro, não fez isso sem me dar uma bronca daquelas. Como poderia um viajante brasileiro viajar sem a bandeira? Na verdade eu gostaria de levar uma bandeira com uma tarja preta, de luto, para demonstrar o descontentamento com os caminhos de nosso país, porém fui voto vencido, uma vez que não se trata do propósito da viagem. Talvez seja isso mesmo!



No dia seguinte!

O segundo "Primeiro" dia de estrada: De Cusco a Nazca!

Saio cedo do Hotel Florida del Inca, onde me receberam muito bem essa semana.
Segundo Juan, teria meu dia mais duro. Me informou sobre cada detalhe do percurso e tanto insistiu até que me fez desistir de ir pelo interior, me direcionando a Nasca, por ser mais seguro e, apesar de mais longe, bem mais rápido. Ainda bem! Pois se pelo caminho melhor não foi fácil, o que seria do mais difícil.
Uma vez li um relato de um rapaz, que infelizmente não me recordo o nome, dizendo que objetivos maiores do que 500km diários no Peru, eram quase impraticáveis. De fato, o país tem uma topografia tão variada que é quase impraticável. Quase! Achilles e Gustavo fizeram parte dessa  e rota e venceram, e eu agora faria a sequência de montanhas desafiadora. 
A grande montanha russa natural, leva você de 5000 m, depois a 1200m, várias vezes, com sequências de curvas que somam mais de 200km. Mas curvas mesmo! Eu diria que a nossa linda serra do rio do rastro parece um aeroporto perto dessa cordilheira. Lá em cima, em Pampa Galera, a mágica sensação de pilotar no altiplano Peruano à 4500m, sendo trazido a realidade eventualmente por uma Alpaca cruzando na minha frente.

O visual é lindo, mas dirigir horas assim cansa um bocado!


Juan me aconselhou diversas vezes. Não desça do altiplano à noite, é muito difícil e perigoso. Meu último ponto de parada seria Púquio, onde cheguei as 15:00h. Olhei no GPS e faltavam 157 km. Eu teria duas horas e meia de sol ainda e então resolvi descer. E tudo teria ido bem, não fossem as duas barreiras de 40 min cada, para a manutenção da pista,  que peguei fechadas. Bem, estava feito! Voltar não era uma opção e resolvi seguir. 
As 18:00, ainda em Pampa Galera, pouco antes do início da descida, vi o sol vermelho no topo das montanhas, indicando que seus últimos raios iluminavam o meu caminho. Parei, tomei o resto da água, comi uma barra de cereais com chocolate para ganhar  a energia necessária, pedi proteção e segui.

Criação de Alpaca em Pampa Galera!

Detalhe!


O entardecer cria uma condição em que os olhos não são fiáveis e a luz da moto não traz vantagens, que meu velho e saudoso  pai chamava de "lusco-fusco". Pois lá estava eu,  "manejando" com muita atenção e copiando o movimento das Alpacas que insistiam em cruzar a pista. Em dado momento a neurose era tamanha que as pedras ao longo da pista pareciam mover-se. 

Ao iniciar a descida, a noite já havia dado o ar da graça e os faróis mesmo reparados, formavam um imenso clarão, só cortado nas cabeceiras das curvas de mais de 330 graus, quando a luz se perdia no nada, já que a pista margeia precipícios sem nenhuma proteção. 

As curvas, com barro pelas obras, se seguiram por 70 dos 157 km, interminavelmente. Levei três horas para fazer o trajeto e não tive como parar a moto para fotografar. No meio da descida, em um pequeníssimo abrigo na lateral da pista, dois policiais me param com suas balisas iluminadas e me perguntam o que eu estava fazendo ali! Respondo que estou indo para Nasca e eles então me pedem pra seguir com muita precaução. O que segui à risca, obviamente! 

Em dado momento, o céu me inspirou a ficar por ali mesmo. Talvez pudesse armar a barraca e fotografar o colorido do céu noturno que só a ausência total de luz poderia demonstrar. Mas isso implicaria em deixar muita gente aflita, pois não havia comunicação naquele local ermo! Segui e próximo as 09 horas estava instalado no mesmo hotel que Achilles e Gustavo passaram dias antes. O acampamento ficará para frente, os três amigos juntos, com um bom vinho, para comemorar o reencontro.

Por me reconhecer, através dos relatos do Gustavo e do Achilles eu imagino, Isabel, a cozinheira do hotel preparou a minha janta, levou ao meu quarto e não cobrou o adicional do serviço, me desejando sorte e dizendo que estava acompanhando! Muito bacana isso!

Ligo o Wi-fi do celular no hotel e haviam muitas mensagens de Juan preocupado, que já estava pronto para ir me buscar pelo adiantado da hora. Sem contar os amigos e a Iara que já tinha até perdido a senha do Spot na preocupação. Da mesma forma lá estavam mensagens de Ivan querendo saber como Valentine se saiu! Obrigado pela preocupação meus amigos!

E como Valentine se saiu?

Homem e máquina tem uma conexão, não emocional no meu caso, mas de confiança. A moto tem que ser a extensão de seu corpo e como tal, você acaba conhecendo cada reação.
Valentine estava um pouco diferente, não em sua determinação ou vigor, mas na forma como reagia aos meus comandos. Um pouco ansiosa talvez, com respostas mais imprecisas! Ou esse seria eu?
O dia foi se seguindo e as intermináveis curvas com aceleração e frenagem sucessivas foram me dando confiança. Ao final do dia eu já estava feliz com o resultado. Porém, faltava um teste, o de alinhamento em velocidade.  No domingo, de Nasca à Huacho, Valentine passaria também neste teste.  
Me peguei várias vezes olhando no velocímetro e baixando a velocidade que havia subido sem que eu me desse conta, mostrando que já estávamos nos entendendo bem. Eu já me acostumara as reações de Valentine e ela tinha recebido bem seus novos ajustes e curativos, como por exemplo, óleo e retém da bengala dianteira provenientes de um braço hidráulico de um trator John Deere! Perfeito! 
Acidente superado! Agora estou em dúvida se nos Estados Unidos peço para desfazerem o que Ivan fez, colocando peças originais em Valentine, ou apenas peço para fazerem a manutenção normal de óleo e filtro e não deixo tocarem em nada.  Espero que até lá eu tenha mais clareza sobre isso!


De Nasca a Huacho!

Uma espadinha nas linhas de Nasca, já explicado pelos amigos Achilles e Gustavo.

Valentine Blanc! Fazendo história!


Feliz pelo dia anterior, escolho a música a dedo, e inicio o trecho do dia animado com a retomada da expedição.

A letra que não saia da minha cabeça!

A estrada é boa e eu fui beneficiado pelo dia de domingo. Aproveitei para dar uma volta no centro de Lima, propositalmente já que estava no lugar certo e na hora certa e outrora tinha vindo a Lima, mas apenas em vôo de conexão, o que não me permitiu ver nada. 
A cidade é bonita e contrasta com o restante do país, tendo 100km de extensão, com sua região metropolitana. Destaque fica para o trânsito que, mesmo no domingo, parece não esmorecer!
No centro, paro sob um viaduto para pedir informações para um grupo de policiais que estavam estacionados próximos as suas motos. Falamos, rimos, me pediram um palpite para o jogo do Brasil e Peru pela Copa América e resolveram me mostrar a saída. Segui com escolta por uns oito quilômetros. Que beleza!
Mais adiante, já no caminho certo, em um sinal, olho pro lado e vejo um carro que é uma mistura de Monza, com Del Rey, vermelho,  caindo aos pedaços e lotado com quatro adultos e sete crianças. Isso mesmo 11 pessoas. Eu contei e conferi com o motorista. 
Conversamos um pouco e o sinal abriu. Próximo sinal e paramos próximos de novo. O motorista, com cara de gozador, acompanhado de uma senhora no banco do carona me diz: "Minha sogra gostou de você, quer o número do seu celular!" e, aponta para a senhora ao seu lado, que não sabe onde se esconder. Rimos muito e eu falei que na volta do Alaska passaria o telefone! Paramos mais dois sinais um ao lado do outro e seguiram-se piadas dos dois lados. Foi divertido. 
Saindo de Lima, pego a Panamericana Norte e conferindo o GPS vejo que há uma estada litorânea que me leva ao mesmo ponto. Saio da principal e sigo pelo litoral, num visual arrebatador, com uma estrada construída sobre areia, de novo margeando precipícios mas dessa vez, junto ao pacífico. 
No inicio da estrada paro para fazer umas fotos de uma comunidade residente nas montanhas de areia. Do outro lado da estrada havia um presídio, com suas guaritas altas. Sem tirar o capacete, ao melhor estilo "Formiga Atômica", tiro a máquina da mala, começo as fotos, identifico um parapente e começo a registrar. Eis que uma voz vem do alto da guarita me inquerindo sobre o que eu estava fotografando em torno do presídio. Sem saber como se fala parapente em espanhol, apontei e gritei que estava fotografando o "homem pássaro". Depois de uma ressonante gargalhada, o agente me desejou "suerte" e boa viagem! Ri muito de novo e não me encorajei a fotografá-lo, pois aqui fora deve ser bem melhor do que lá dentro! ;)

Observem a estrada nos montes de areia!
Mototurismo e boas pessoas andam juntos!


Comunidade próximo a rodovia. Adiante de Chincha!

Detalhe!

Homem pássaro!


Mais adiante volto para a "Carretera Panamericana Norte" e chego cedo em Huacho, mas como o tempo está fechado pra chuva resolvo parar por aqui. 
Não tenho feito muitas fotos, pois Gustavo e Achilles já passaram por aqui dentro do cronograma e devem ter registrado tudo muito bem. Como estou atrasado, aproveito para ir adiante e tentar alcançar os meus saudosos amigos assim que possível. 
Informações vindas dos nobres viajantes dão conta de que eles já estão em Cali na Colômbia. 

Quem se dividiu na viagem de hoje entre o Peru e o Equador foi o nosso amigo Marcelo Karpinski de Chapecó e a divertida turma do "Se refiro!".  Pescadores e gozadores de marca maior, olhando a camiseta da expedição disseram que nesse momento o Achilles e o Gustavo estão lá em cima e eu ainda no umbigo do Marcelo, hehe. Mas eu chego!

Segura esse time!




Grande abraço amigos!
Ps: O blog sempre é escrito cansado e depois de um dia de jornada, então perdoem alguns erros! 









2 comentários:

  1. Parabens pela aventura e pelo blog, o seu relato muito shou de buel,a estamos acompanhando e torcendo pelo sucesso da *alentine* e o seu....tokaleopau que tudo vai dar certo, abs e otima viagem...apenas não corra mais rapido que as asas dos seus anjos....

    ResponderExcluir
  2. ValeuJoel. Obrigado meu caro! Vou tranquilo

    ResponderExcluir